domingo, fevereiro 07, 2010

Cora Coralina "Conclusões de Aninha"

    

Estavam ali parados.
Marido e mulher.

Esperavam o carro.
E foi que veio
aquela da roça
tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe,
tinha queimado seu rancho,
e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um
auxílio para levantar
novo rancho e comprar suas, pobrezinhas.
O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,
entregou sem palavra.

A mulher ouviu. 
Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,
se comoveu e disse que
Nossa Senhora havia de ajudar
E não abriu a bolsa.

Qual dos dois ajudou mais?

Donde se infere que o homem ajuda sem participar
e a mulher participa sem ajudar.

Da mesma forma aquela sentença:

"A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."

Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada,

o anzol, a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso

e ensinar a paciência do pescador.

Você faria isso, Leitor?

Antes que tudo isso se fizesse
o desvalido não morreria de fome?

Conclusão:

Na prática, a teoria é outra.

Um comentário:

  1. O verdadeiro nome de Cora Coralina era Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas.
    Ela nasceu em 1889,na cidade de Goiás, antiga Vila Boa, interior do Estado de Goiás, foi lá que ela viveu toda sua vida, até 1985. Em 1908 Começou a publicar seus poemas em um jornal local.
    Seu primeiro livro, "Poemas dos Becos de Goiás e outras histórias mais", foi publicado em 1965, e apresentou Cora Coralina em cenário nacional, já com 75 anos, o que finalmente a conduziu ao reconhecimento da sociedade nacional como a grande porta-voz de uma realidade interiorana, afetada pelo avanço da modernidade.
    O poeta Carlos Drummond de Andrade, surpreendido com a obra de Cora, escreveu-lhe em 1979: "(...) Admiro e amo você como a alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais (...)".

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