Dinalva Heloiza
Pelas mãos da presidente da Comissão Especial de Diversidade Sexual da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maria Berenice Dias, foi entregue a presidente
da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participava (CDH), senadora Regina
Sousa (PT-PI), uma proposta de projeto a criação do Estatuto da Diversidade Sexual, contendo propostas de Emendas Constitucionais.
O ato ocorreu na sala de reuniões da CDH, na manhã de quinta-feira (23), quando
foram repassadas 100 mil assinaturas, colhidas ao longo de seis anos, em apoio
ao projeto, que tem o objetivo de promover a igualdade sexual e coibir crimes contra a comunidade LGBTI.
Foto (Geraldo Magela - Agência Senado)
Regina Sousa elogiou a iniciativa das entidades ligadas aos movimentos em
defesa da diversidade sexual e prometeu transformar em projeto de lei a proposta
“que criminaliza a homofobia tal qual ocorreu com o racismo”, que foi então, encaminhada à Comissão, por
meio do portal e-Cidadania.
Maria Berenice, da OAB, lamentou o fato de que o Brasil, ainda ocupe a posição do
país que mais mata homossexuais no mundo. Só em 2017, morreram 372 pessoas,
o que corresponde a uma morte a cada 21 horas. O senador Randolfe Rodrigues
(Rede-AP) definiu a iniciativa como um “ato de resistência e de coragem”.
Estatísticas
Entre as propostas de Emendas Constitucionais destaca-se a que altera a
Constituição Federal para inserir “entre os objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil a promoção do bem de todos, sem preconceitos relativos à
identidade de gênero ou orientação sexual”. Outra sugestão de PEC dispõe “sobre
licença-maternidade, licença após adoção e discriminação de trabalhador em
virtude de orientação sexual ou identidade de gênero”.
A representante do Movimento Mães pela Diversidade, Maria do Carlo
Queiroz, agradeceu à OAB que, segundo ela, soube acolher a dor de mães que
perderam seus filhos, e explicou que as mães não querem que seus filhos se
tornem estatísticas. Para ela, as mães da diversidade têm orgulho de suas
famílias.
- Nós, mães da diversidade, sabemos que um pai e uma mãe que não aceitam
a orientação sexual de seu filho estão assinando o atestado de óbito dele. E é
por isso que entramos nessa luta em defesa do Estatuto da Diversidade
Sexual— concluiu.
Segundo estatísticas, nos primeiros quatro meses deste ano, o Brasil teve
um aumento de 20% nas agressões contra pessoas LGBTI. Em 2016, houve 343 mortes
nesse grupo -144 das vítimas eram travestis e transexuais.
Algumas legislações em âmbito estadual, apenas preveem penas
administrativas para práticas de discriminação. Exemplo, um hotel que
sobretaxar um homossexual com seu parceiro, ou um restaurante que impedir a
entrada de um casal gay. Existem penalizações no âmbito administrativo, desde
uma multa até, em casos de reincidência, a cassação de sua licença de
funcionamento, o que a torna apenas uma legislação pedagógica.
Ante a ausência de uma Lei Federal, que pune com pena de prisão, a Comissão
de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tentou por várias
vezes contribuir para que a comunidade LGBTI tenha ampliado os seus direitos em forma de lei.
O Brasil, segundo estatísticas, é um dos Países que mais se pratica
crimes contra população LGBTI. Segundo dados da GGB, um importante grupo gay que
fica no Estado da Bahia, a cada 25 horas, uma pessoa LGBTI é assassinada no país. Nesse sentido, estamos retrocedendo. Os nossos índices de violência são
superiores aos outros Países da América Latina, é o que afirma a Comissão da
OAB.
Precisamos de uma legislação penal que criminalize essa violência
exacerbada que temos contra a população LGBTI, pois é um quadro alarmante.
Desde junho de 2011 quando a ONU - Organização das Nações Unidas aprovou a primeira resolução das Nações Unidas,
através do Conselho de Direitos Humanos, sobre direitos da diversidade
sexual, a organização vem efetivamente convidando os estados membros, a implantarem suas legislações em defesa da diversidade.
ONU - Organização das Nações Unidas
A resolução, então Intitulada "Direitos Humanos, Orientação Sexual e
Identidade de Gênero”, foi aprovada durante a 17ª Sessão do Conselho de
Direitos Humanos, em Genebra (Suíça). No documento, então apresentado pela
África do Sul, recordou-se "a universalidade, interdependência,
indivisibilidade e inter-relação dos direitos humanos consagrados na Declaração
Universal dos Direitos Humanos”.
A resolução afirma que "todos os seres humanos nascem livres e
iguais no que diz respeito a sua dignidade e seus direitos e que cada um pode
se beneficiar do conjunto de direitos e liberdades (…) sem nenhuma
distinção". O documento expressa também preocupação com os atos de
violência e discriminação em razão da orientação sexual ou identidade de
gênero.
Na época várias organizações se posicionaram, a
exemplo da Anistia Internacional, que se manifestou a favor da resolução e com
sua coerência com a jurisprudência de outros organismos regionais e nacionais. A Organização dos Estados Americanos (OEA), também aprovou em 2011 por consenso uma resolução que condena a
violência e a discriminação por motivos de orientação sexual e identidade de
gênero.
Na época o Conselho de Direitos Humanos da ONU - pactuou uma solicitação ao Alto Comissionado de
Direitos Humanos da ONU para que fosse realizados estudos em cenário global
sobre a legislação e as práticas anti-homofóbicas, além de identificar de que
forma a legislação internacional poderia atuar em combate a essas violências.
Tais estudos ocorreram continuamente, e desde então, muitas ações foram
ampliadas em cenário global, mas também neste aspecto infelizmente o Brasil, ainda se encontra na
retaguarda.
Um exemplo é o projeto PLC 122, que criminalizava a homofobia, e que acabou
sendo arquivado e levado para discussão junto com as reformas do código penal, sendo que o projeto poderia ter sido encaminhado sozinho, pois é um projeto que, frente a esses dados
alarmantes, poderia ser aprovado de imediato, mas por questões fundamentalistas
das bancadas conservadoras, este foi arquivado e passaram-se para as reformas do
código penal.
Também sob a competência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO) no Brasil, aprofundar o debate sobre sexualidade e gênero
contribui para uma educação mais inclusiva, equitativa e de qualidade, não
restando dúvida sobre a necessidade de se estabelecer uma efetiva legislação em cenário nacional que defenda os direitos da diversidade sexual brasileira e ainda que os planos de
educação efetivamente possam incorporar perspectivas de educação em sexualidade e gênero.
A UNESCO no Brasil reafirma seu
compromisso com a garantia dos direitos das mulheres e da população LGBT,
posicionando-se de forma contrária a toda forma de discriminação e violação dos
direitos humanos em qualquer circunstância e, em especial, em espaços
educativos.
“As desigualdades de gênero,
muitas vezes evidenciadas pela violência sexual de meninas, expõem a
necessidade de salvaguardar marcos legais e políticos em cenário nacional, assim como
tratados internacionais, no que se refere à educação em sexualidade e de gênero
no sistema de ensino do país”, disse a agência das Nações Unidas em comunicado.
“Isso se torna ainda mais
importante uma vez que a educação é compreendida como processo de formar
cidadãos que respeitem às várias dimensões humanas e sociais sem preconceitos e
discriminações”, afirmou a agência da ONU.
Um dos compromissos dos
países-membros das Nações Unidas é garantir o cumprimento da Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável, adotada pelo Brasil e todos os outros
Estados-membros da ONU em 2015. Entre os 17 objetivos globais da agenda está "...a
garantia de ambientes de aprendizagem seguros e não violentos, inclusivos e
eficazes, e a promoção da educação para a igualdade de gênero e os direitos
humanos."
Resultado de amplo debate
internacional, o Marco de Ação da Agenda da Educação 2030 joga luz sobre a importância da
perspectiva de gênero na educação.
“Esta agenda dedica especial
atenção à discriminação baseada em gênero, bem como a grupos vulneráveis, e
para assegurar que ninguém seja deixado para trás. Nenhum objetivo de educação
deve ser considerado cumprido a menos que seja alcançado por todos”, afirmou.
A UNESCO ressaltou em todos os
seus documentos oficiais que estratégias de educação em sexualidade e o ensino
de gênero nas escolas são fundamentais para que homens e mulheres, meninos e
meninas tenham os mesmos direitos, para prevenir e erradicar toda e qualquer
forma de violência, em especial a violência de gênero.
A agência da ONU já possui
diversos materiais que podem ajudar os educadores do país a incluírem questões
de gêneros nos debates de suas aulas e seus espaços educativos (clique
aqui para saber mais).
“A eliminação das desigualdades
de gênero é determinante para a construção de uma sociedade inclusiva e
equitativa”, disse a UNESCO. “Todas as pessoas e os estudantes têm o direito de viver e
aprender em um ambiente livre de discriminação e violência. Com educação e
diálogo é possível prevenir a violência de gênero”.
A UNESCO no Brasil lançou também
uma campanha nas redes sociais sobre o tema (veja aqui).
- Referencias - ONU/UNESCO/Agencia Senado/UOL
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